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Um desabafo sobre o comportamento suicida de quem quer ter o direito de morrer sem leito

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No Jayme dos Santos Neves, 94% dos leitos seguem ocupados. Foto: Divulgação

A quarentena de 14 dias decretada pelo Governo do Estado para tentar frear a contaminação e as mortes pela Covid-19 ascendeu em parte da população um sentimento beligerante. Ninguém gosta de restrição, ainda mais de um processo que já dura um ano, extremamente cansativo, difícil e penoso para todas as pessoas.

Mas, assim como o médico e PHD, dr. Gustavo Peixoto, disse recentemente, ‘as outras ondas de Covid foram treinamentos, agora estamos enfrentando uma tsunami’. E o reflexo está ai: leitos em falta; 72 mortes em 24 horas no ES. Ultrapassamos a barreira de 7.000 capixabas mortos; e a macabra previsão de que a Serra atinja terríveis 1.000 mortes ainda em abril – caso o percentual médio se mantenha.

Essas informações não são fáceis de serem transmitidas aos leitores. Até porque, por trás desses computadores – que são apenas ferramentas para que notícias cheguem até você – há outro ser humano, que sente o peso da dor, do medo, do sofrimento, que chora e que também já perdeu alguém que ama em decorrência desse vírus.

Não é fácil… Especialmente para o TEMPO NOVO que tem uma relação de carinho e cuidado com a Serra. Sempre combativo, independente e comprometido com essa cidade desde 1983.  Ao longo desses 38 anos, enfrentamos juntos muitos desafios. Somente no recorte temporal dos últimos 10 anos, houve, por exemplo, as chuvas de 2013 e 2014 que devastaram todas as regiões da cidade.

Além da angustiante cobertura jornalística, na noite do dia 30 de novembro de 2014, a sede do TEMPO NOVO em Laranjeiras – por estar no 2º pavimento – serviu de abrigo para mais de 50 pessoas que trabalhavam nas lojas do bairro e ficaram literalmente isolados no meio do alagamento que já batia mais de um metro de água.

Em 2016, paradoxalmente, foi a vez da seca. Milhares de pessoas sofrendo com a falta d’água por dias consecutivos. O TEMPO NOVO esteve no ponto de captação do Rio Santa Maria da Vitória, que abastece nossa cidade. Foi necessário segurar o choro ao ver o rio totalmente seco. As águas sequer passavam pela barreira de pedras da Cesan. Ao pensar que 700 mil pessoas (Serra + parte continental de Vitória) dependiam daquela penúria de água, era de se desesperar.

Em 2017 foi a paralisação da Polícia Militar, o chamado fevereiro sangrento. Foi a primeira vez em quase 40 anos que paralisamos a circulação do jornal impresso devido a um problema ‘externo’. Enquanto a bandidagem tocava o terror, mantivemos a cobertura online, com jornalistas enfrentando todos os temores possíveis para fazer chegar até você as informações mais precisas sobre aquele cruel acontecimento. Atendemos comerciantes e empresários da Serra que foram barbaramente saqueados e que literalmente choravam nos ombros dos repórteres.

Em 2020 chegou a pandemia do novo coronavírus. Começou distante da Serra, lá na China e chegou como um vendaval a partir de março, trazendo consigo uma nuvem carregada de morte, sofrimento, perdas financeiras, empobrecimento e muita discórdia.

Doença nova que a ciência ainda patina para entender. Desde então o sistema de saúde público-privado vem trabalhando na linha limítrofe ao heroísmo. As consequências na saúde mental de médicos, enfermeiros, técnicos e demais trabalhadores só será dimensionada daqui a algum tempo.

É nesses momentos que a imprensa se faz presente… está em curso no Espírito Santo o risco de uma crise humanitária – caso os índices de contaminação se mantiverem nesse ritmo. O Governo foi objetivo: vai morrer gente em casa sem atendimento se nada for feito. As vacinas ainda são em conta gota, nenhum ministro da saúde se firma no cargo – ou abandona ou precisa ser conivente com negação científica – a pandemia foi radicalmente politizada, ideologizada e até mesmo colocada em suspeição nos casos mais extremos dos conspiracionistas barulhentos.

Especialmente nesse mês, o Jornal TEMPO NOVO está tendo que conviver com um clima de violência verbal, desrespeito e deslegitimação contínua do trabalho jornalístico. A crise no ES é real e é perene. O falso dilema entre salvar vidas e salvar a economia é absurdo. População que quer manifestar, que faça em prol da vacinação em massa – única forma de voltar a normalidade; Manifeste também pela ajuda governamental para não quebrar sua empresa, para segurar o desemprego e manter a renda mínima com um auxílio emergencial.

‘Ah, mas não tem dinheiro’… vivemos para ver pessoas que pagam impostos hiperbólicos a vida toda, defender que o Governo não tem dinheiro para lhe ajudar no momento que mais precisa? Protestar contra as medidas de proteção é defender o direito de morrer sem assistência médica. Ninguém é imune ao vírus em especial as novas variantes, isso inclui aqueles que se negam a respeitar os protocolos sanitários. É um comportamento suicida.

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