Quem acha que já viu tudo em política está enganado. Sempre há margem para uma surpresa. Exemplo disso foi o palanque montado pelo governo do Estado, em parceria com a Prefeitura, na noite da última terça (24), para a inauguração do Campo Bom de Bola, em Morada de Laranjeiras.
Provavelmente por obra do governador Paulo Hartung (PMDB), o prefeito Audifax Barcelos (PSB) e a ex-deputada federal e atual secretária de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos, Sueli Vidigal (PDT), dividiram o mesmo palanque, o mesmo microfone, deram-se as mãos, aplaudiram um ao outro, desceram a placa da obra, cortaram a fita inaugural e caminharam lado a lado dentro do campo.
Suely é esposa do deputado federal e ex-prefeito da Serra Sérgio Vidigal (PDT), principal rival político de Audifax.
Tudo isso sob os olhares incrédulos de pessoas que não imaginavam ver mais uma cena dessas entre cria (Audifax) e criador (Vidigal). Fazendo papel de algodão para os cristais não quebrarem estava o vice-governador Cesar Colnago (PSDB), que recheou o palanque com a petista Lourência Riani e membros do PPS, como o deputado estadual Amaro Neto, ambos usando da palavra, dando ao evento uma linhagem política bem eclética.
Para evitar vexame, ou se prevenindo de possíveis hostilidades, cada um levou sua claque. Elas se portaram bem, sem agressividade, respeitando uma a outra, aplaudindo com ênfase seu líder e reconhecendo a importância do outro.
O que se passava no coração de Sueli e de Audifax não se sabe, mas ambos se respeitaram, não deixaram que o rancor que carregam aflorasse e colocasse por terra o esforço do autor da façanha.
Sueli começou mais acanhada. Mas logo se soltou e voltou a ser a política sorridente e desenvolta, demonstrando alegria por reencontrar velhos amigos que nada têm com o passado de desavenças com Audifax.
Já o prefeito foi mais extrovertido. Não se inibiu com a presença de Sueli e fez questão de agradecer a presença dela naquele evento e a convidou, como também ao deputado federal Sérgio Vidigal, para voltar em outras ocasiões de inaugurações.
A distância entre a expectativa e a realidade
Evento à parte, várias perguntas inquietam as cabeças das pessoas presentes: quem foi o autor da ideia? Qual o objetivo? E o que pode sair daí?
Provavelmente o autor da ideia é o governador Paulo Hartung. Hoje ele é a única pessoa com condições de fazer esse pedido de aproximação e as duas partes atendê-lo. Tanto Vidigal quanto Audifax não terão coragem de dizer um ‘não’ para Hartung.
Considerando que o autor da ideia seja mesmo Hartung, o objetivo é reaproximá-los e buscar um acordo para a eleição de prefeito em 2016, quando Audifax tentará a reeleição e Vidigal retornar ao comando da Prefeitura.
Um acordo entre as duas principais lideranças locais é tudo que o governador precisa. Fica barato para ele em 2016. Poderá subir no palanque sem magoar o outro lado e se prevalecer a lógica de Audifax ser o candidato, ele tira o prefeito do colo de Casagrande e coloca no seu. Com isso enfraquece Casagrande numa possível disputa pelo Anchieta em 2018.
O difícil não é convencer Audifax, que está preparado para enfrentar Vidigal mais uma vez nas urnas, mas se sentiria mais confortável se não tivesse que enfrentá-lo. O desafio é convencer Vidigal a desistir da disputa e mais, apoiar a reeleição de Audifax. Vidigal fica pensando o que ele diria para a sua mãe, se ela estivesse viva, ao aceitar um acordo dessa natureza.
Qualquer acordo em que Vidigal tenha que abrir mão de disputar a eleição, ele precisa ser contemplado com um voo mais alto em 2018. E que voo seria esse? Senador? Vice-governador? Ou governador? Qualquer que seja a opção, Vidigal não tem garantia nenhuma de que logrará êxito, tem muita gente na fila querendo a mesma coisa.
Portanto não se iludam, não há garantias de nada. A miragem pode se tornar real e o prenúncio de acordo vingar. Mas o confronto entre Vidigal e Audifax pela prefeitura no ano que vem é a maior tendência no momento.