Bruno Lyra
Nos últimos três anos, 518 pessoas morreram por problemas respiratórios somente nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA´s) da Serra. E mais de 23,2 mil foram atendidas nesses locais por doenças da respiração. Os números foram revelados na Audiência Pública que a Câmara de Vereadores fez na última terça-feira (24) sobre a poluição do ar causada por Vale e ArcelorMittal Tubarão, além da renovação da licença ambiental das duas empresas que está sob responsabilidade do Estado.
Os dados foram passados pelo proponente da audiência, o vereador Fábio Duarte (PDT), que obteve os dados juntos a Secretaria Municipal de Saúde. E embora não se possa afirmar que os casos sejam todos provocados exclusivamente pelo pó preto, outras poeiras mais finas e gases vindos da siderurgia de Tubarão, tão pouco pode-se excluir a responsabilidade dessas indústrias sobre os problemas respiratórios nas comunidades do entorno. É o que ficou latente nas falas de vereadores, especialistas, gestores de saúde, meio ambiente e ativistas presentes na audiência.
O vereador disse que fez o evento porque a comunidade serrana não estaria sendo ouvida pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) sobre a renovação das licenças ambientais, além da Serra também não estar sendo consultada sobre um acordo paralelo (Termo de Compromisso Ambiental – TCA) que o estado está propondo às duas empresas para que adotem mais reduzam a poluição. O TCA tem interveniência do Ministério Público.
Mesmo sendo responsável pela licença e partícipe do TCA, o Iema não mandou representante a audiência. Anteriormente, a assessoria de imprensa do Iema negou que o órgão não esteja ouvindo os municípios da Grande Vitória. Acrescentou que a renovação da licença da Vale será concluída em novembro e que a da Arcelor em fevereiro.
Além de Fábio, estiveram na Audiência os vereadores Roberto Catirica (PMDB), Alexandre Xambinho (Rede), Cabo Porto (PSB), Pastor Ailton (PSC), Welington Alemão (DEM), Geraldinho Feu Rosa (PSB), Adilson de Novo Porto Canoa (PSL) e Stefano Andrade (PHS). Da prefeitura da Serra, o secretário de Saúde Benício Pereira e o de Meio Ambiente, Marcos Franco.
Da Secretaria de Saúde do Estado, Roberto Laperriere. Da Ufes, a professora, pesquisadora e membro da Sociedade Capixaba de Pneumologia, a médica Ana Maria Casati. Da comissão de Meio Ambiente da Ordem dos Advogados do Brasil, Marcos Delfino. Além de lideranças comunitárias, da Federação das Associações de Moradores e do Movimento Ambiental da Serra.
Vale e Arcelor dizem que reduzem poluição
Presentes a audiência, representantes de Vale e Arcelor disseram que as empresas reduziram a poluição. Gerente de Meio Ambiente da Vale, Romildo Fracalossi, disse que de 2007 para a cá reduziu em 50% a emissão de poeira; que a empresa passou a usar gás como combustível ao invés de óleo.
Da Arcelor, Bernardo Corrêa da Silva, afirmou que os investimentos de U$ 100 milhões em curso vão derrubar a emissão e poeira em 18% até janeiro do ano que vem. Falou também que a reforma de fornos da coqueria vão reduzir a emissão de gases altamente nocivos como o dióxido de enxofre (SO2).
“O TCA do Estado com a Vale em 2007, da qual a Serra não foi convidada a participar, não surtiu efeito. O pó preto continuou afetando a Grande Vitória. Defendo que novas exigências estejam atreladas a condicionantes das licenças, não um novo TCA. O Estado desrespeitou a gente em não mandar representante do Iema à audiência”. – Fábio Duarte
“Apesar dos esforços, os problemas respiratórios e cardiológicos decorrentes dessa poluição na população da Grande Vitória permanecem. As indústrias (Vale e Arcelor) foram instaladas num local errado, Augusto Ruschi havia feito esse alerta. Pior que o pó preto são as partículas finas que entram na corrente sanguínea e os gases, que aumentam a mortalidade. Há estudos atuais relacionando a poluição até ao Alzheimer”- Drª Ana Maria Casati