Por Bruno Lyra
O embargo da Vale imposto por Vitória no último dia 07 representa a terceira vez que os capixabas conseguem parar pelo menos parte das atividades da mineradora por conta da poluição. A empresa havia sido embargada em 1991 pelo então governador Max Mauro, na época ainda estatal de nome Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). O outro embargo foi em janeiro de 2016, após a Polícia Federal flagrar despejo de minério no mar.
Nas três situações, uma coisa em comum: a Serra não foi protagonista em nenhuma delas. Embora a tributação das oito usinas de pelotização e dos portos da multinacional fique na capital Vitória, na Serra estão localizadas estruturas importantes da Vale, como ferrovia, entrada de veículos pesados e oficina de locomotivas. Sem contar que a planta siderúrgica da ArcelorMittal Tubarão (ex-CST) fica na cidade, embora a sua tributação seja dividida com Vitória. A antiga CST só está ali por conta das pelotas de minério da Vale. É mais do que uma vizinha, é intermediária do arranjo no qual a Vale é base.
É justo Vitória apertar o calo da Vale. Além do aumento de pó preto neste escaldante e árido verão, a mineradora segue jogando água suja com minério no mar. Mas a poluição da Vale é problema de décadas, está ali desde que a empresa se instalou em Tubarão, no final dos anos 1960.
A ‘peitada’ de Vitória na titã mínero-siderúrgica tem outra razão: aproveitar a imagem desgastada da empresa após o rompimento da Barragem em Brumadinho (MG), no dia 25 de janeiro, e da fraca resposta ao colapso na bacia do rio Doce com o estouro da barragem da Samarco (Vale + BHP) três anos antes, na também mineira Mariana.
Nada mais oportuno para os capixabas questionarem sob esses holofotes o rompimento diário de ‘barragens’ de pó preto que prejudicam sua saúde e patrimônio, em flagrante desrespeito ao artigo 225 da Constituição Federal.
Pena a Serra estar longe desse protagonismo. A ainda modesta representação política em nível estadual e a extrema dependência do setor industrial em sua economia, assentada em empresas satélites ao Complexo de Tubarão, talvez expliquem essa ausência.
Porque pó preto aqui também há muito. Basta uma inversão térmica ou soprar vento sul para sentir o que moradores de Vitória, Cariacica e Vila Velha passam com o vento nordeste.