Entrevista com o Secretário Estadual de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social, Bruno Lamas (PSB). Animado com o novo desafio do qual ele classifica como “missão”, Bruno chegou ao prédio da Setades às 8h30, cumprimentando a todos individualmente. Esse será apenas seu oitavo dia de trabalho à frente da Secretaria, mas os planos e projetos já parecem estar na mente há algum tempo, a julgar pelo entusiasmo com o qual trata os temas.
Discípulo da Serra, nascido e criado em Jacaraípe, Bruno viu o município sair da economia do abacaxi rumo ao aço, como ele mesmo gosta de citar. Agora, ele defende um novo ciclo de desenvolvimento: “o caminho é criar independência econômica através do fortalecimento dos setores de serviço e comércio”, diz ele.
Nesta entrevista, ele explica as razões que o levaram a deixar a Assembleia Legislativa para assumir a pasta de Desenvolvimento Social num contexto de aumento da pobreza e desemprego. Ele demonstra enxergar nessa nova fase da vida uma espécie de oportunidade para “mudar a vida das pessoas” e, ao mesmo tempo, credenciar-se para disputar o cargo de prefeito da Serra em 2020.
O que o levou a abrir mão do mandato de deputado estadual para assumir a Setades?
Eu reafirmo que a Serra agora tem um ‘deputado secretário’. E o convite do governador para poder tratar a geração de emprego e o combate à pobreza me encantou. Poder ajudar ao próximo. Então, estou aqui cumprindo uma missão.
Como gerar empregos diante da crise econômica e cujas ações dependem muito das políticas nacionais?
Quero transformar essa pasta na Secretaria do Trabalho. Aqui, nós temos a geração de emprego e renda; nós temos o Sine. Alguns são municipalizados, como na Serra; outros são de responsabilidade do Governo do Estado. Precisamos reestruturar esse serviço; fazer com que ele funcione efetivamente na preparação e na seleção da mão de obra, orientando e encaminhando. Então, é fundamental nós firmarmos parcerias com o setor produtivo.
Mas, objetivamente, como podem se dar essas parcerias?
Nós temos, por exemplo, a ArcelorMittal na Serra, que vai fazer a dessalinização da água do mar. São quase 300 oportunidades inicialmente. Nossa mão de obra está preparada para atender a essa demanda? Temos que ficar atentos ao mercado e treinar, formar e profissionalizar o cidadão de acordo com essas oportunidades. Essa mesma siderúrgica vai fazer a ampliação de um alto forno. São mais 3.800 oportunidades de trabalho. E essa mão de obra precisa ser da Serra, precisa ser capixaba. Porque, senão, vem uma mão de obra flutuante. Então, vamos trabalhar para ocupar essas 4.200 vagas da Arcelor com mão de obra capixaba, por exemplo. É assim que vamos inserir as pessoas no mercado de trabalho.
Quantos desempregados o Espírito Santo tem atualmente?
Quando falamos sobre pessoas que vivem na linha de pobreza, temos mais de 100 mil famílias, algo próximo a 500 mil pessoas. Temos pessoas que vivem com renda de R$ 80, R$ 90, R$ 100. Esse é o público a quem a gente precisa estender a mão. Na grande maioria das vezes, estão nessa condição por falta de oportunidade e de apoio do poder público; por uma educação que às vezes não é inclusiva; por uma assistência que não chega; pela qualificação que é algo utópico na vida dessas pessoas.
O que esperar do Governo Casagrande, que mesmo com experiência de gestão, agora enfrenta um contexto de crise econômica e incertezas políticas?
O governador Renato Casagrande é uma liderança testada e mais madura. Teve liberdade para montar a sua equipe, esse é o diferencial. No último governo dele, foram divididas muitas alianças políticas, em que ele teve muita dificuldade de colocar o time para jogar. Agora é diferente, valorizou o técnico e está liderando um processo de retomada do crescimento do ES. Além da economia, a prioridade do Governo é o social, o combate à violência com a valorização das polícias, com a volta do Estado Presente.
O que esperar de investimentos do Estado na Serra?
A Serra precisa ser tratada como prioridade. O governo passado abandonou as obras importantes para a cidade. O governador já acenou para a retomada do Contorno do Mestre Álvaro. Procuramos o Dnit e temos uma previsão de ordem de serviço, que eu posso arriscar para os próximos 45 dias. Já a escola ABL, eu estive esta semana no DER e já foi feita uma visita técnica e há uma proposta de retomada da obra. Sobre a Rodovia ES 010, o governador deixou claro que esta é uma obra prioritária, e nós estamos discutindo agora a municipalização.
Você costuma dizer que a economia da Serra evoluiu do abacaxi para o aço, uma referência à chegada da Arcelor Mittal, em 1983, que dinamizou o parque industrial da Serra. A cidade se estabilizou, mas a demanda por serviços públicos segue crescente. Qual pode ser o próximo ciclo na economia da cidade?
A siderurgia é muito importante, mas percebo que a Serra não pode mais depender apenas dela. Por exemplo, a segunda maior pagadora de ISS da cidade é uma empresa do setor do comércio, a Wine. Então, este é o caminho: investir no setor de serviços; investir em centros de convenções na cidade, para que a gente possa receber grandes eventos e fomentar o turismo como atividade econômica; fortalecer a legislação de incentivo da cidade, de desburocratização para instalação de novas empresas. Temos uma vocação para o comércio muito forte. Então, o caminho é criar independência por meio do fortalecimento dos setores de serviço e comércio.
Essa experiência no Executivo pode ser o estágio para os seus planos de um dia ser prefeito da Serra?
Sou formado em administração e pós-graduado em gestão pública. Porém, é a minha primeira experiência como gestor público. A minha vida foi construída no parlamento e, certamente, a minha passagem pela Setades será uma oportunidade de aprender. Estou me sentindo muito útil e muito feliz neste novo momento da minha vida.
Hoje se fala muito sobre sua relação com o prefeito da Serra, Audifax Barcelos. Esta relação foi abalada em definitivo?
Ser prefeito é um objetivo que busco já há algum tempo e venho me preparando para isso. O prefeito Audifax é uma liderança importante da cidade e do Estado. O que eu quero, em breve, é levá-lo para um bom diálogo com o governador Renato Casagrande. Eu tenho certeza de que isso será a retomada, não só de uma relação pessoal muito bacana que sempre tivemos pelo desenvolvimento do município. Minha vontade é de que o primeiro convênio da Setades seja firmado com a Serra.