Cidade que já perdeu quase 1.300 moradores devido às complicações causadas pela Covid-19, a Serra pode sofrer graves impactos caso a variante indiana do coronavírus – que já infectou sete brasileiros – chegue a seu território. E, de fato, isso é bem provável que ocorra nas próximas semanas ou meses. A principal preocupação com esta nova mutação do vírus é sua agressividade no corpo humano. Ela ataca órgãos, infecta os mais jovens e piora rapidamente o quadro do paciente.
No Espírito Santo, ainda não há nenhum caso confirmado de paciente infectado pela variante que surgiu na Índia, chamada de B.1.617. No entanto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alertou a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), na tarde desta terça-feira (26), que existe um caso suspeito de morador do ES que pode ter sido contaminado pela mutação.
Apesar de ter noticiado o alerta, o Governo do Estado preferiu não informar de qual município seria este paciente – formato de divulgação adotado no início da pandemia para não assustar os moradores de cidades e bairros com o surgimento dos primeiros casos confirmados ainda no início de 2020.
E mesmo que o caso suspeito seja descartado, o Espírito Santo e, consequentemente a Serra, não estariam livres dos riscos dessa variante ser espalhada no município e restante do estado. Acontece que dois estados vizinhos, São Paulo e Rio de Janeiro, já tiveram casos positivos – confirmados nesta quarta-feira (26).
Seja para trabalho ou passeio, passageiros capixabas ou oriundos de outros estados circulam em voos diretos para os dois estados citados acima diariamente. Vale ressaltar que, além de não ter feito ações nas fronteiras brasileiras como, por exemplo, restringir voos da Índia – como havia sido orientado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – o Governo Brasileiro não promove sequer fiscalização ou barreira sanitária em aeroportos, rodoviárias e estradas.
Sendo assim, é totalmente possível afirmar – segundo especialista – que a mutação indiana afete a Serra. O TEMPO NOVO conversou com a infectologista Cileia Martins para entender um pouco mais sobre a mutação e o risco de transmissão local – quando pessoas são infectadas pela variante dentro de determinada cidade ou estado.
De acordo com ela, os riscos são reais, mas não é possível afirmar, ainda, que a mutação esteja presente em território capixaba. Cileia Martins ainda destacou que a variante indiana e outras são muito mais agressivas e podem comprometer acima de 70% dos pulmões rapidamente, além de gerar outras complicações graves.
“A confirmação ainda não temos, pois isso depende de alguns procedimentos que são feitos pelo Lacen (Laboratório central do ES). Existe a suspeita. São variantes muito mais agressivas, geralmente desenvolvem com uma pneumonia viral muito rápida, comprometimento acima de 70% da estrutura do pulmão. Levando inclusive a síndrome inflamatória que causa uma micro trombose que pode afetar qualquer estrutura, tanto renal, quanto cardíaca, pulmonar, cerebral e assim por diante”, disse.
Ainda segundo a infectologista, capixabas devem evitar viagens para São Paulo, Rio de Janeiro e outros estados com confirmações desta variante. “A questão é que, como já está na região de São Paulo e no Rio de Janeiro, evidentemente o que se deve evitar é ir nestes locais, onde terão maior chance de contaminação. Evitar as contaminações é a única forma que nós temos”.
Martins continuou: “isso com a vacina que já está sendo aplicada e fará o efeito rebanho: quanto mais vacinados, menos doentes. Isso precisa ser feito: quando puder, seja vacinado e mantenha suas medidas de cuidado. Não sair, não ir pra aglomerados, evitar ir para bares, evitar ficar tomando e trocando copos de cerveja, procurar manter distanciamento e procurar sempre se alimentar e hidratar bem, mantendo sua boa imunidade. Isso ajuda a evitar a chegada dessas variantes”, destacou.
Ainda em conversa com a reportagem, a infectologista afirmou que os jovens possuem mais chances de serem infectados pela variante indiana e demais. “O grande problema é que essas variantes estão pegando exatamente os jovens. Que são aqueles que menos se cuidam e mais fazem o desconhecimento da doença. Essas cepas novas são muito mais agressivas e gostam de pessoas jovens. São aquelas produtivas, que ainda tem famílias e filhos e, que pior, muita das vezes se contaminam e levam para dentro de casa contaminando pessoas mais velhas”, finalizou.
O TEMPO NOVO entrou em contato com a Prefeitura da Serra para saber quais ações serão tomadas para evitar que a variante chegue à cidade, mas não obteve reposta até a finalização desta matéria. Caso a demanda seja respondida, o texto será atualizado com as informações.
É importante destacar que o Município também foi questionado se o caso suspeito foi registrado na cidade e sobre quais variantes já foram detectadas no território serrano.
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