A queda nos índices médios de chuva na Serra já é uma realidade que vem se manifestando há bastante tempo. Esse fenômeno não está relacionado exclusivamente ao município, mas faz parte de uma conjuntura climática muito mais ampla, que impõe ao Espírito Santo desafios não apenas para o futuro, mas também para o presente dos capixabas.
Desta vez, setembro pode ser um mês especialmente complicado para a Serra, como demonstra a vazão do Rio Santa Maria da Vitória, que abastece grande parte do município. De agosto para setembro, o volume de água do rio caiu drasticamente. Segundo dados publicados pela Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), a vazão média em agosto foi de 8.215 litros por segundo; já em setembro, até o dia 9, a média foi de 3.756 litros por segundo, representando uma queda de 55%.
Na prática, os efeitos dessa situação já estão sendo sentidos na Serra. Após decretar estado de emergência devido ao aumento das queimadas causadas pelo tempo seco, o Espírito Santo deve adotar, na próxima semana, novas medidas de restrição ao uso de água para setores como agricultura e indústrias, conforme informou recentemente o diretor-presidente da Agerh, Fábio Ahnert. Essas medidas impactam diretamente a Serra, pois, embora a agricultura tenha pouca expressividade no município, a indústria compõe uma parte significativa do PIB e da geração de empregos e renda.
Ainda não há clareza sobre como essas restrições de consumo de água serão implementadas, mas é provável que haja um sistema de cotas, determinando o percentual de redução para cada setor. Em um cenário mais radical, se o percentual de redução for alto no consumo industrial de água, é possível que a produção na Serra seja comprometida.
Este nível de preocupação já é um prenúncio de um possível racionamento de água para o consumo doméstico, algo que não ocorre há algum tempo, embora diversas ameaças tenham surgido nesse sentido. A falta d’água já é visível na paisagem urbana da cidade, com a vegetação bastante seca e o predomínio de um visual amarelado. No Rio Santa Maria, a vazão já está beirando o limite crítico, que é abaixo de 3.000 litros por segundo.
A outra bacia hidrográfica que abastece a Serra é a do Rio Reis Magos, embora não tenha sido possível encontrar dados recentes de vazão. Historicamente, sempre que o Santa Maria está baixo, o Rio Reis Magos está em uma situação ainda mais preocupante.
Embora a Cesan tenha planos para dessalinização e desenvolvimento de outras fontes de abastecimento, até o momento, a água encanada e tratada que chega aos moradores da Serra vem exclusivamente desses dois rios. O crescimento populacional da Serra segue em ritmo acelerado, e, com ele, a demanda por mais água, em um contexto climático que tem mostrado uma oferta hídrica natural cada vez mais escassa. É uma equação que não fecha.