Um grupo de cegos se aproximou de mim na Bienal do Livro. Eles procuravam livros em braile. Eu respondi que infelizmente a feira não tinha nada em braile para oferecer. Ainda assim, uma moça entre eles resolveu se aproximar de mim e tocar meu livro. Como era pequeno, decidimos que eu poderia ler para ela.
Eu então li todo meu livro, ela adorou e fez vários comentários sobre sua compreensão e como poderia aplicar na realidade dela. Ela disse que lê mais de um livro por dia, também usa aplicativos e recursos de áudio para estar sempre aprendendo.
Depois que ela deixou o stand eu só conseguia chorar. Primeiro por me sentir honrada de compartilhar a minha obra com aquele ser humano maravilhoso, segundo porque me senti envergonhada por cada momento de preguiça, desleixo, reclamação, procrastinação.
Eu pensava estar sentada na cadeira de escritora e intelectual do evento, mas na verdade, aquela era minha cadeira de estudante. Uma vez eu escrevi que nós somos tolos por pensarmos que a visão provém apenas dos olhos.
Esse encontro foi a prova de que quem enxerga mesmo é o coração e de que deficiente é a sociedade que ainda não está preparada para lidar com essas pessoas, dando a elas o respeito, o conforto e o espaço que merecem. Deficiente é quem decide não aprender mais, mesmo podendo. Quem faz muito do pouco que tem, não pode ser considerado deficiente, mas sim um herói.