Com o agravamento da pandemia na Serra, muitos comerciantes estão temerosos com o cenário econômico que se avizinha. Além deles, trabalhadores de todas as áreas estão impedidos de exercer sua profissão diante das medidas de restrição; eles se perguntam até quando vão conseguir manter seus empregos. É diante desse cenário de dúvida e aflição que o vereador da Serra, Pablo Muribeca, de apenas 29 anos, resolver tomar uma medida pouco vista na política: ele doou seu salário, como uma forma de respeitar a dor da população.
De acordo com ele, é um ato simbólico, já que é uma medida isolada na política e representa apenas ‘um grão de areia nas contas públicas’. No entanto, pode mostrar para a população que ainda tem ‘boas pessoas exercendo cargos públicos que possuem sensibilidade’ com o momento de dificuldade que muitas pessoas estão vivendo.
Pablo é de origem da região rural da Serra, está em seu primeiro mandato na Câmara e foi eleito pela onda de renovação que varreu o parlamento municipal de 2020. Em contato com a reportagem, o vereador detalhou a doação:
“Escolhi três projetos sociais para doar meu salário. O Instituto Projures, localizado em Serra Sede, que desde 2005 é um centro de defensa e garantia dos direitos fundamentais, especialmente os sociais, com ênfase nos direitos da criança e do adolescente. O outro foi o projeto Joga Três, que tem um trabalho em torno do esporte nas comunidades mais carentes; também ajudei o projeto ‘Vírus do Bem’ que é de ação social e vem auxiliando muitas famílias da Serra nesse momento de pandemia”, explicou Pablo.
A Câmara da Serra paga a cada um dos 23 vereadores o salário bruto de R$ 9 mil. Com os descontos em folha referentes a impostos e INSS, o salário líquido cai para aproximadamente R$ 7 mil. No caso de Pablo, é descontado em folha 20% do salário bruto para pagamento de pensão alimentícia. Com isso, o valor doado é de R$ 5.5 mil, montante integral que o parlamentar recebe livre de obrigações em folha.
Em pesquisa na internet, a reportagem não encontrou nenhum caso semelhante no ES de outro parlamentar que tenha feito doações de seus vencimentos nesse período de endurecimento da pandemia. Pablo Muribeca fez questão de encaminhar ainda uma cópia dos comprovantes de doação, como uma forma de dar transparência. A reportagem decidiu não publicar por constar dados pessoais dos envolvidos.
“A população está sofrendo muito! Ando a Serra todos os dias, me coloco a disposição para ajudar, mas chego a ficar envergonhado vendo meu salário cair normalmente na conta enquanto a população, que é quem me paga, está passando necessidade. Vou ficar apertado como qualquer um, talvez eu atrase algumas contas, mas pelo menos vou poder dormir com a consciência mais leve e vou poder olhar no olho de cada morador e sentir sua dificuldade. Eu sei que não vai mudar o mundo, mas pelo menos estou fazendo minha parte”, disse o vereador Pablo.
Ainda de acordo com ele, a medida adotada é para promover um debate público sobre o tema e incentivar outros políticos e agentes públicos a fazerem o mesmo. “Aprendi em minha vida familiar que quando se doa algo, deve ser de coração, não pedindo nada em troca. Acho um debate importante que a população tem que fazer. As pessoas precisam voltar a ter esperança na política e quando um representante eleito vai de encontro com o sofrimento da população, é um passo para as coisas começarem a melhorar”, explicou.
Ato do vereador gerou ataques de outros parlamentares
Incomodados com a atitude do vereador Pablo Muribeca em doar seu salário, alguns colegas parlamentares teceram críticas a ele durante a sessão ordinária ocorrida na última segunda-feira (05). O vereador mais incisivo foi Jefinho do Balneário (PL), que chegou inclusive a levantar suspeitas, sem apresentar nenhuma prova, sobre a idoneidade da esposa do vereador, que antes de conhecer Pablo, foi servidora da Prefeitura da Serra.
“Até minha esposa, que não ocupa cargo público nenhum, foi atacada. É de se lamentar que alguns parlamentares se comportem dessa forma. A população está com ranço dessa velha política. Não são todos os vereadores, na verdade a maioria me apoia, e muito dizem que queriam fazer o mesmo, mas precisam do dinheiro para colocar comida em casa. Temos quer respeitar… cada um sabe onde o calo aperta. Mas atacar minha família só mostra o desespero de parlamentares que ainda não se sintonizaram com a dor da população”, afirma Pablo.
