A Câmara da Serra foi o legislativo municipal que mais se renovou entre os municípios da Grande Vitória. No entanto, os ares de mudança ainda não foram suficientes para sepultar algumas práticas questionáveis. Entre elas, o movimento de ‘sumiço’ em comboio de vereadores, para articularem a eleição da mesa diretora no porão da intransparência e dos conchavos. Dessa vez o destino escolhido pelos parlamentares foi a charmosa cidade de Guarapari.
De acordo com informações de bastidores confirmadas por várias fontes – tanto de dentro da Câmara como próximas aos futuros mandatários, um grupo de vereadores está alojado em um sítio no distrito de Amarelos, em Guarapari.
É lá que o atual presidente da Câmara, Rodrigo Caldeira (PRTB) aglutina seus pares para se manter no poder. Essa prática já remonta aproximadamente 2 décadas, e esteve presente em todas as eleições de mesa diretora durante esse intervalo. A reportagem buscou informações sobre o sítio: se é de propriedade de algum vereador, ou está sendo alugado e quem está bancando a estadia dos vereadores. No entanto, não foi possível obter informações concisas e seguras a esse respeito.
O que se sabe – dado a escassez de informações oficiais – é que o grupo é composto por aproximadamente 9 a 12 vereadores eleitos. Todos eles estão comprometidos com a reeleição de Caldeira para a presidência da Câmara da Serra. Sobre os vereadores que não participam desse ato, foram confirmados pelo menos 8 parlamentares, que compõe um grupo que se intitulam ‘independentes’ e defendem a renovação do comando da Câmara em alinhamento com a vontade observada as urnas.
São eles: Anderson Muniz (Podemos), Ericson Duarte (Rede), dr. William Miranda; Igor Elson (Podemos); Elcimara Loureiro (PP); Rodrigo Caçulo (Republicanos) Raphaela Moraes (Rede); Pablo Muribeca (Patriota). Já Sérgio Peixoto foi confirmado com caso de Covid-19 e está em casa, de isolamento.
A reportagem ainda não conseguiu confirmar pelos menos mais dois nomes: Prof. Arthur Costas, Prof. Alex Bulhões e Prof. Rurdiney. Todos disseram oficialmente que estão em suas respectivas residências. Mas fontes do grupo de Caldeira listam os três como participantes do movimento pró-continuismo capitaneado por Caldeira. Por isso, ainda há ‘dúvidas’ quanto a eles.
Alguns vereadores foram procurados, inclusive Rodrigo Caldeira, que como de costume não atendeu às ligações.
Já parlamentares do grupo ‘independente’, conversaram com a reportagem. De acordo com eles, não há um nome que desponta para ser o presidente, inclusive podem aceitar até nomes vindos do PDT, que tem a maior bancada. Entretanto, o único veto é o nome de Caldeira.
“Quero deixar bem claro que não apoio à reeleição de Rodrigo Caldeira para presidente da Câmara”, disse dr. William Miranda. Frase seguida pelos demais vereadores eleitos do grupo.
Sob comando de Caldeira, Câmara viveu crise institucional e acusações de ‘crime organizado’
Foi na gestão de Rodrigo Caldeira a frente da Câmara da Serra, que o Legislativo viveu um dos seus períodos mais instáveis. Um grupo liderado pelo atual presidente entrou em choque com o prefeito Audifax Barcelos, que chegou ao auge no dia 04 de abril de 2019, quando Audifax reuniu a imprensa no hotel Íbis, na Reta do Aeroporto, e afirmou que a Câmara estava sendo controlada pelo ‘crime organizado’.
Na época, Audifax chegou a pedir proteção policial. Ainda de acordo com o prefeito, o objeto que causou a crise, foi a ‘tentativa de interferência’ na chamada PPP do Lixo, estimada em mais de R$ 1 bilhão. A Parceria Público Privada para gestão dos resíduos sólidos nunca chegou a ser implantada na Serra.
Caldeira sempre negou a afirmação, dizendo que Audifax temia investigação na Câmara, e classificou as acusações da época como ‘desespero’. O fato é que houve uma instabilidade geral entre os poderes municipais que causou o travamento de projetos da Prefeitura – período amplamente documentado pelas reportagens do TEMPO NOVO – inclusive um que autorizava o município a contratar médicos. O Projeto ficou mais de dois meses travado na Câmara.
Em julho do ano passado, líderes da oposição articularam uma ‘trégua’ com Audifax, e os projetos da Prefeitura passaram a ter vazão. Desde então, a relação permaneceu truncada, mas fluía nos principais projetos. O grupo de oposição que guinou Caldeira para a presidência foi dissolvido pelas urnas, salvando-se apenas Wellington Alemão, Adriano Galinhão, Raposão e o próprio Caldeira.