Mestre Álvaro
Yuri Scardini é autor do livro 'Serra: a história de uma cidade' e escreve sobre política e economia

Vidigal decide que seu ciclo de prefeito se encerrou e não será candidato – entenda o real motivo

Vidigal Serra
O prefeito Sergio Vidigal afirmou que não será candidato a reeleição. Crédito: Divulgação

Sergio Vidigal é ou não candidato à reeleição? A resposta é não. No entanto, ainda não é momento para decisões definitivas. De qualquer forma, ao contrário do que muitos, incluindo este colunista, acreditavam, Vidigal pode realmente optar por não se candidatar. Em geral, a possibilidade de o prefeito não buscar a reeleição não era cogitada por aliados, opositores, observadores ou interessados no tema. Contudo, novas informações surgiram recentemente, que foram confirmadas pelo próprio prefeito na tarde do último dia 14.

1 – De fato, existe uma pressão familiar para que ele conclua este ciclo na prefeitura. Há uma questão pessoal profunda que esta coluna prefere não expor sem o consentimento da família Vidigal. Essa questão familiar está ligada à saúde e ao bem-estar. Informações apontam que em especial, Serginho Vidigal, filho do prefeito, tem exercido muita resistência à ideia de reeleição do pai. Isso tem influenciado fortemente a decisão do prefeito. Portanto, o Vidigal marido e pai pode pesar mais na balança do que o Vidigal político.

2 – Caso dispute a eleição e vença, ao término de um hipotético segundo mandato consecutivo [2025 – 2028], o prefeito teria 71 anos. Vidigal tem um amor, carinho e cuidado especial pelos seus cinco netos. Sabe-se que a carreira política no passado, especialmente diante dos grandes desafios que a Serra enfrentou em seus primeiros mandatos como prefeito, limitou sua presença na infância dos filhos. Essa é uma situação que ele não está disposto a repetir. O Vidigal avô tem grande influência na decisão do Vidigal político.

3 – O “novo” estilo de fazer política, impulsionado pelas redes sociais e focado em “narrativas”, tem causado grande desconforto a Vidigal. Ele se sente desestimulado a participar de discussões que considera de baixo nível. Embora as eleições na Serra sempre tenham sido intensas, existia um debate sobre a cidade, algo que ele percebe como sendo substituído pela superficialidade dos confrontos digitais. Portanto, aquele Vidigal que protagonizou embates homéricos com João Batista da Motta, João Miguel Feu Rosa e Audifax Barcelos, embasados em conteúdo, projetos e propostas, pode não estar disposto a entrar na baixaria que as redes sociais podem provocar.

4 – Vidigal tem plena consciência das conquistas de sua família para a cidade, sabendo que seu legado é duradouro e que ninguém pode apagar o fato de que ele é para a Serra o que Getúlio Vargas é para o Brasil, com todas suas nuances, complexidades e controvérsias. Vidigal é a maior liderança popular na história do município. O legado das pessoas nem sempre é compreendido no período em que são construídos. Contudo, o desenvolvimento da experiência civilizatória da Serra se encarregará de valorizar esse legado.

Em resumo: o Vidigal marido, pai e avô pode prevalecer sobre sua vida pública com a Serra, impulsionado por uma compreensão maior sobre o caráter de transitoriedade da vida humana, recentemente desafiada em seu círculo familiar. Seu legado florescerá conforme o amadurecimento cultural da Serra, somado ao fato de ele rejeitar o nível baixo do debate político amplificado pela ultra comunicação em rede.

Assim, toda aquela certeza que existia sobre sua reeleição, baseada apenas em análises políticas e desconsiderando as facetas humanas às quais um político também está sujeito, desmoronou. Isso significa então que ele não é candidato? Ele enfatizou que não será candidato e que sua decisão é irrevogável. Mas há mais desenvolvimentos a serem observados. Com base nos pontos levantados acima, Vidigal parece enfrentar as seguintes alternativas:

No dia de hoje, Vidigal se dedicou a explicar os motivos do recuo à reeleição ao seu grupo de secretario e aos vereadores filiados ao PDT. Segundo fontes que participaram das duas reuniões, Vidigal tratou o tema como um assunto decidido e irreversível.

1 – O lançamento de um sucessor. Quem seria? Não deve ser batido martelo agora, mas em um primeiro momento, Weverson Valcker Meireles. Embora seja reconhecido em alguns círculos da Serra e do Espírito Santo, para a maioria dos eleitores, representa uma novidade. Ele é um daqueles jovens que parecem trazer uma experiência de 30 anos na vida pública, apesar de sua juventude. Com 32 anos, Weverson Meireles cresceu no seio do PDT, formou-se em Administração pela UFES e participa ativamente da trajetória política de Vidigal desde seu mandato de deputado federal (2015 – 2016). Desde então, ocupou posições de liderança e gestão no âmbito municipal e estadual.

Uma linha de sucessão emergiu não por pesquisas quantitativas, que atualmente não são definitivas, mas através de uma análise profunda qualitativa, além do olhar da marqueteira Jane Mary, intima conhecedora dos corações serranos. O que se sabe é que essa pesquisa teria revelado a viabilidade eleitoral de um projeto de sucessão, com Vidigal exercendo o papel de cabo eleitoral e articulador político para unir algumas forças e condições.

1.1 – Se as peças se encaixarem, promete ser uma disputa acirrada. A experiência com o ex-prefeito Audifax Barcelos (PP) lançando Fábio Duarte em 2020 mostrou que é possível estabelecer uma sucessão nesse formato, embora seja um grande desafio. Apenas para efeito de comparação, com toda a estrutura montada por Audifax aliada a família Duarte, Fábio atingiu 18% dos votos no primeiro turno. No contexto atual, entende-se que seria necessário maior percentual para ingressar no segundo turno. O contexto e os personagens são outros, mas também há algumas similaridades. Weverson, ou um outro candidato a ser escolhido, pode sim representar o desejo de ‘renovação-segura’ para o eleitor que não quer arriscar o futuro da Serra em um caminho desconhecido, porém paralelamente apresenta algum cansaço do revezamento Audifax e Vidigal.

1.2 – Caso esse plano se mostre equivocado e Weverson ou um outro escolhido, não chegue ao segundo turno, por exemplo, Vidigal se tornaria o apoio mais cobiçado no segundo turno, oferecendo a ele uma nova oportunidade, porém sem o papel principal.

Neste contexto, até Audifax Barcelos (PP) poderia ser considerado para uma aliança. Quem acredita que Vidigal e Audifax têm uma relação irreconciliável se engana. É provável? Não. É impossível? De maneira alguma. Tanto Audifax quanto Vidigal compartilham desconfianças sobre como outros candidatos, especialmente o pré-candidato Pablo Muribeca, poderiam prejudicar a institucionalidade da Serra. Se houver alinhamento de interesses e uma linha de confiança com garantias mútuas for estabelecida, uma composição de segundo turno não é impossível, seja com Audifax ou outro potencial candidato do segundo turno [com possível exceção de Muribeca].

2 – O lançar um sucessor em uma ampla coalização – As principais forças aliadas de Vidigal já foram informadas de que ele não será candidato. Informação vindas de fontes do Palácio Anchieta apontam que o governador Renato Casagrande (PSB) ficou surpreso com a decisão. Dentre os pedidos de Casagrande esteve a condição de que ele participe da decisão definitiva sobre o nome escolhido. O prefeito não deixou necessariamente claro, mas apontou que em caso de seu primeiro indicado não reunir as condições necessárias para ser lançado, é possível a formulação de um arranjo de forças externas ao PDT que proponha uma outra alternativa.

3 – Candidatar-se à reeleição. E se a sucessão planejada com Weverson ou outro escolhido não se alinhar a tempo ou da forma desejada? E se o risco for considerado alto ou ocorrerem mudanças nas questões pessoais e familiares de Vidigal? O calendário eleitoral permite que, até agosto, Vidigal ajuste, adapte, recue ou confirme seu plano de sucessão.

3.1 – Assim, Vidigal ainda tem tempo para entrar na disputa eleitoral, formar coalizões partidárias, estabelecer alianças e reunir aliados, tornando-se, pelo processo natural, o candidato a ser superado.

3.1.1 – Perguntado se existiria a possibilidade de formar uma chapa puro sangue com Weverson na vice, Vidigal disse que seria uma alternativa quase impossível, considerado que isso limitaria muito outras alianças potenciais. Essa pergunta tem um sentido, pois, em caso de sucesso, o prefeito poderia refazer seus planos em 2026, renunciando para concorrer a um cargo mais alinhado com suas necessidades pessoais e familiares. Assim, deixaria a Serra nas mãos de seu grupo político e de alguém em quem confia, não só pessoalmente, mas também na continuidade do projeto de desenvolvimento social que vem liderando desde 1997. Ainda que aparentemente essa possibilidade é pequena, vale a pena ser listada.

3.1.2 – Se Vidigal concorrer e vencer, poderá reestruturar a administração da Serra para um modelo de governança mais compartilhado, com a criação de uma figura semelhante a um “primeiro-ministro” ou “super-secretário”, proporcionando-lhe mais liberdade pessoal sem a responsabilidade total de administrar uma das maiores prefeituras do país.

Considerações: Diante disso tudo, o plano A é Weverson Meireles, mas tudo indica que Vidigal está aberto a alternativas que durante esse trajeto do tempo se mostre com melhores chances. Por isso, aguarda-se uma declaração do governador Renato Casagrande (PSB) a respeito. Qual será o nível de envolvimento de Casagrande em um projeto que não é encabeçado por Vidigal? Como reagirão os principais aliados de Vidigal, como o deputado Alexandre Xambinho e o presidente da Câmara da Serra, Saulinho da Academia, que podem ver-se ocupando o mesmo espaço que Weverson? Em 2020, a escolha de Fábio Duarte por Audifax gerou divisões com o vereador Igor Elson e com a família Lamas, por exemplo.

A decisão de Vidigal de não participar diretamente nas eleições bagunçou completamente o cenário que estava previamente estabelecido. Pablo Muribeca, por exemplo, já não é mais o ‘único novo’, embora ainda possa criar contra-narrativas. Inicialmente, essa decisão também traz alguns benefícios diretos para Audifax, uma vez que é provável que uma parte dos eleitores de Vidigal migre para Audifax. Isso ocorre porque, como já discutimos em várias ocasiões, o eleitor da Serra tende a ver Audifax e Vidigal como parte de um mesmo projeto de governança. Não é raro, inclusive, que ambos sejam confundidos nas ruas.

O recuo de Vidigal em relação à reeleição também incentiva a entrada de novos candidatos que, até então, estavam apenas observando o cenário. Entre eles, destaca-se o deputado Vandinho Leite (PSDB), que possui todas as condições para se lançar candidato, caso veja mais vantagens do que desvantagens em tal movimento.

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