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Vidigal e Audifax movimentam as peças do tabuleiro para protagonizar mais um duelo

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Audifax e Vidigal vêm se revezando no comando da Prefeitura da Serra há duas décadas e estão rompidos desde 2008. Fotos: Arquivo

A política da Serra está uma bagunça, e é tudo caso pensado para manutenção da disputa local entre os adversários clássicos: o ex-prefeito Audifax Barcelos e o atual prefeito Sergio Vidigal. Vamos ao contexto: Audifax sofreu um baque com o resultado eleitoral ruim de 2022, ao ser o 4º colocado na eleição para governador do Espírito Santo (ficando em 3º entre os eleitores da Serra) em um pleito do qual a pauta ideológica suplantou as questões locais e objetivas. Já Vidigal faz um mandado visto como mediano e antes mesmo de assumir o cargo em 2020, deu um nó na política da Serra ao dizer que não seria candidato a reeleição.

Ao somar estes principais itens (mas há outros) têm, portanto, uma chuva de pré-candidatos. Alguns já o são explicitamente, como o deputado Pablo Muribeca que dorme e acorda pensando nisso; e outros que atuam de forma mais discretas como, por exemplo, os demais colegas de Assembleia com domicílio eleitoral na Serra: Alexandre Xambinho e Vandinho Leite.

Ocorre que Audifax quer enfrentar Vidigal e Vidigal que enfrentar Audifax. Por quê? Eles se conhecem bem, não seria uma eleição no limite do desconhecido. As pautas não seriam ideologizadas, que é uma coisa que ambos não sabem fazer e nessa altura do campeonato não querem fazer. Os dois ambicionam ser reconhecidos historicamente pelo que foram (e ainda são, pois estão em plena atividade) para a Serra: os prefeitos que organizaram a cidade e deram um rumo ao desenvolvimento local, ou seja, os prefeitos que deram orgulho ao morador da Serra de dizer ‘eu sou serrano’. Na verdade, observa-se que a rivalidade está só entre eles e no meio político, mas para o eleitor em geral, quando um dos dois é a primeira opção de voto, a segunda geralmente é o outro.

Tanto é que a rejeição crescente não é contra um e outro, o sentimento de ‘chega de Vidigal&Audifax’ explicita bem que na visão do eleitor, ambos são parte do mesmo contexto e da mesma vivência política. E objetivamente falando, é isso mesmo. Era tudo um grupo só que começou a rachar no final de 2006 e tornou-se público na eleição de 2008. Portanto, o ideal para eles é se enfrentar; e nos bastidores políticos é essa a conversa mais perene até o momento.

Vidigal quer derrotar Audifax e acabar com essa narrativa audifista, dele nunca ter ganhado do adversário; já Audifax quer enfrentar Vidigal, pois tem confiança de que sabe como fazer… diferente de enfrentar o desconhecido. Os dois querem a eleição tradicional, no ‘chão de fábrica’, na coalisão entre os líderes comunitários, religiosos, as demais lideranças em diversos segmentos. A eleição das militâncias audifista e vidigalista, da qual todo mundo sabe quem é, todo mundo se conhece (muitos até são bons amigos). Querem tratar das pautas locais, da quais dominam em absoluto, até porque ambos são parte da própria história.

Vê se Audifax e Vidigal querem entrar nessas bolas divididas como pautas sobre aborto? Legalização de drogas? Questões ligadas ao público LGBTQIA+? E tantas outras que inundam as redes sociais de debates acalorados e que tem como base política o conservadorismo e o progressismo, direita e esquerda, bolsonarismo e o petismo…? Mas para conseguir descer a narrativa para a Serra e um enfrentar o outro, os dois estão seguindo um plano. Até onde se sabe, Vidigal e Audifax não conversam, eventualmente dão algum recado por meio de um ou outro intermediário. E só. Mas os planos dos dois se confluem, talvez por osmose, ou por destino, o mesmo destino que fez com que um nascesse no dia 8 de maio (Vidigal) e o outro no dia 9 de maio (Audifax), separados apenas por alguns anos. No fim, Vidigal e Audifax tem a tendência de pensar igual, eles são a escola política que governa a Serra desde 1996.

Ao dizer que não será candidato à reeleição e fazer com que a imprensa estadual tratasse tal afirmação como dogma, Vidigal conseguiu o quê? Abrir a porta para qualquer um que almeja ser candidato a prefeito. Assim ele mantém os corações de seus aliados esperançosos: ‘será que sou eu o escolhido?’ Ao cumprir o acordo político com o jornalista Philipe Lemos, de absorvê-lo como secretário em caso de derrota nas urnas, Vidigal deu mais um sinal trocado, novamente comprado em peso pela imprensa estadual.

Com a expectativa de poder, Vidigal controla a Câmara da Serra, que está sob o guarda-chuva de Saulinho da Academia; mantém aberto o diálogo com Xambinho, que serve bem para transitar pela Assembléia; e continua a dar esperanças para um e outro que sonha em sentar na cadeira de prefeito. Audifax faz o mesmo jogo, brincando com a expectativa de poder dos outros. Enquanto isso, segue andando pela Serra toda, de segunda a segunda, refazendo sua imagem na rua… nos bairros… nas comunidades… mostrando presença, abraçando e beijando os serranos que diga-se de passagem adoram calor humano, assim como fazia Zé Maria Feu Rosa e assim como faz Sergio Vidigal.

Politicamente, Audifax está conversando como todo mundo, menos com Vidigal, até onde se sabe. Audifax incentiva as candidaturas e dá esperança a todos. O ex-prefeito incentiva o atual vice prefeito Thiago Carreiro, depois vai lá e incentiva Pablo Muribeca… incentiva Saulinho da Academia, manda recados de incentivo para o vereador Igor Elson do lado bolsonarista, incentiva também o deputado Vandinho Leite (esse mais esperto diz: ‘não Audifax, é você que pode ser meu candidato’). Até o PT, Vidigal e Audifax andam cutucando para ver se aparece alguém de lá.

Mas por que Vidigal e Audifax querem tanta gente assim na eleição? 1 – o adversário dos dois é o sentimento crescente (e natural) de ‘chega de Vidigal e Audifax’. Se a disputa ficar somente entre os dois e um terceiro candidato, o cansaço eleitoral pode canalizar nessa terceira figura, seja ela quem for. Esse terceiro candidato pode ir para o segundo turno e vencer com o apoio do outro que ficou para trás no primeiro turno, Vidigal ou Audifax.

2 – Nenhum pré-candidato (assumido ou não) se mostra extremamente perigoso (até o momento). Pablo talvez suscitasse alguma preocupação uma vez que já está em campanha e fez mais de 20 mil votos na Serra…? Vamos lembrar que Vandinho Leite também já fez mais de 20 mil votos na Serra em eleições passadas. Pablo tem uma rede social de expressão, mas eventualmente, dependendo do que surgir por aí, isso pode ser a ruína. Além disso, uma rede social bem maior não garantiu nada a Capitão Assumção na eleição de prefeito em Vitória no ano de 2020, quando ficou lá para baixo no ranking de votação. Pablo tem uma pauta: saúde, que se resume a entrar em UPA’s e filmar superlotação. É natural que cobranças comecem a aumentar em torno dele, por proposta e por movimentação resolutiva. A volatilidade das redes deixa todo mundo andando em ovos. As mesmas redes sociais que tornou o ex-governador Dória queridinho do Brasil em 2016, quando venceu a prefeitura de São Paulo, deu a ele uma rejeição tão grande que preferiu ser candidato a nada em 2022.

3 – Com um monte de candidato no páreo a narrativa de ‘3ª via’ se fragmenta, divide-se os votos em vários candidatos. Falando hipoteticamente: uns com 10%, outros com 8%, outros com 7%… enfim. Já Vidigal e Audifax podem errar no que for, mas é impensável no meio político que ambos não passam dos 30% dos votos cada um. Em um cenário hipotético como esse, teriam mais chance de ir ao segundo turno e mais uma vez protagonizam um disputa tradicional, conhecida, com narrativas dos quais dominam, com modus operandi já bastante estabelecido.

Logicamente, falta mais de um ano para eleição, muitas variáveis ainda podem embaralhar o panorama. Como o governador Renato Casagrande vai se comportar? E se por acaso, mensurado em pesquisa eleitoral, algum terceiro nome crescer ao ponto de canalizar o ‘chega de Audifax e Vidigal’ para si? Qual partido Audifax vai se filiar? Como será a nacionalização da eleição de 2024, portanto, o comportamento do eleitor? Mesmo com os sinais trocados de Vidigal e os incentivos de candidaturas feitas por Audifax, pode haver uma coalisão de forças centralizadas em um único nome? Como o PT de Lula vai se comportar? Todas estas perguntas importantes serão respondidas pelo tempo, e darão um panorama com mais base sólida.

Certeza que Vidigal conta com dois aliados importantíssimos: o governador Renato Casagrande (do qual tem histórico de colocar o PSB a frente dos seus aliados) e o presidente da Câmara da Serra, Saulinho da Academia, que trabalha para a governabilidade no Parlamento. Já Audifax tem refeito o caminho com todo mundo que está desgostoso com Vidigal. Diz que não será candidato e promete a todos que pode apoiá-los. Seu principal aliado é si mesmo e sua capacidade de andar contínua e permanentemente pelas ruas da Serra, se fazendo valer de 12 anos como prefeito, para a manutenção do seu recall e da figura de liderança serrana.

Até o momento Vidigal e Audifax são candidatos, trabalham para isso, tem visões semelhantes sobre o contexto, politicamente manipulam o meio político brilhantemente, como já fazem há muitos anos; e preferem se enfrentar a lutar contra uma terceira figura desconhecida e que pode aglutinar o sentimento potencialmente crescente de ‘chega de Vidigal e Audifax’.

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