Yuri Scardini
Depois da agitação da semana passada, quando explodiu no meio político a possibilidade de expulsão do deputado federal Sérgio Vidigal do PDT – o que na prática dificultaria uma candidatura a prefeito da Serra – o mercado aguarda o desdobramento do caso, que pode embaralhar o jogo para outubro.
A turma de Vidigal tenta pormenorizar o acontecimento, a turma de Vandinho Leite (PSDB) se inquieta com a possibilidade de um possível apoio político por parte do ex-prefeito e as turmas de Bruno Lamas (PSB) e Audifax Barcelos (Rede) se mantêm cautelosos e desconfiados.
É real a possibilidade de Vidigal não vir para o embate contra Audifax. E não é absurdo pensar que a celeuma provocada pelo voto em favor do impeachment de Dilma Roussef (PT) contrariando a orientação do PDT, não passe de estratégia do ex-prefeito da Serra para sair da disputa pela porta da frente e com status de mártir.
Vidigal tem um grupo pesado e que, consequentemente, saiu do poder quando Audifax ganhou as eleições de 2012. Portanto, é evidente que Vidigal esteja pressionado para que dispute as eleições. Numa outra ponta há os indícios de uma provável tentativa por parte do governador Paulo Hartung (PMDB) de convencer o deputado a não vir candidato para não abrir palanque ao ex-governador Renato Casagrande (PSB) na Serra.
Vidigal também tem receio do estilo ‘kamikaze’ de Audifax na condução da campanha eleitoral. No verdadeiro ‘bang bang de velho oeste’ em que se transforma uma disputa tão polarizada, Audifax não hesitaria em morrer atirando. E balas não faltam para o atual prefeito recarregar suas pistolas eleitorais. Vale a pena sair vencedor, mas todo ensanguentado desse tiroteio?
Outra coisa que pode pôr em xeque a candidatura, é que apesar da liderança de Vidigal nas intenções de voto nas últimas pesquisas publicadas, a gestão Audifax não está mal avaliada. Pelo contrário, o atual prefeito é o que tem a melhor avaliação entre os chefes de executivo da Grande Vitória. Num cenário de nova derrota, Vidigal veria a degeneração de sua carreira política.
Ainda dá para ir muito longe
Vidigal também tem possibilidade de compor com Vandinho, o que inegavelmente inflaria a campanha do tucano e criaria condições reais deste fazer frente a Audifax. Isso resolveria, pelo menos em parte, as pressões por espaço político do pesado grupo vidigalista, que ocuparia parte do governo de Vandinho, em caso de vitória.
Se tal estratégia for adotada e der certo, será uma tacada de mestre do ex-prefeito. Ele ficará bem com o eleitorado, afinal ficou impossibilitado de ser candidato devido ao voto contra o rejeitado governo petista. Ficará bem com o governador e pode até galgar mais espaço no governo Hartung.
Vidigal também não sairá mal com seu grupo político, pois terá arranjado uma saída viável para a turma se ajeitar e ainda vai evitar uma sangrenta disputa com o ‘kamikaze’ Audifax e que, diga-se de passagem, tem grandes chances de ser reeleito. De quebra ficará menos tensionado e com capital eleitoral para navegar em mares mais profundos, como o senado por exemplo.
E até mais longe: hoje Sérgio Vidigal é o político serrano com as melhores condições de chegar até onde nenhum outro chegou, a cadeira de governador. É claro que até lá há um caminho longo, recheado de armadilhas e ardilosos adversários, além da variável incontrolável que é a geopolítica a nível da federação; porém Vidigal tem um nome muito forte junto a lideranças das mais diversas cidades capixabas, além de inteligência e perspicácia o suficiente para fazer frente à turma de Vitória, que insiste em enxergar a locomotiva econômica do ES, que é a Serra, como um lugar periférico.