Pedro Henrique Trindade de Souza é trabalhou como economista na Prefeitura da Serra de 2004 a 2013. Atualmente ele atua na secretaria estadual de Gestão e Recursos Humanos. Como conhecedor da realidade da Serra, cidade onde também mora, ele avalia o atual cenário econômico e faz prognósticos sobre os rumos do setor produtivo no município.
Como a crise econômica brasileira atinge o setor produtivo na Serra?
Na realidade ela é uma crise internacional também das commodities petróleo e minério. O país, o Estado e a Serra são dependentes dessas commodities. Se a economia do Brasil vai bem, a do ES vai melhor e da Serra melhor ainda. E quando o Brasil vai mal, o ES também vai e a Serra é um dos municípios que mais sofre.
Qual o impacto da paralização da Samarco e da saída do centro de distribuição da Petrobrás do TIMS para a economia da cidade?
A paralisação da Samarco impacta toda cadeia da mineração gerando um efeito cascata nos parceiros da empresa aqui na Serra. E a Petrobrás, segue o mesmo raciocínio, ela está realocando suas atividades, investimentos previstos não estão mais acontecendo. A cadeia produtiva do petróleo é muito diversa e, com essa saída, a Serra perde negócios.
Quais os caminhos para a economia do município se recuperar?
Temos que diversificar as atividades e a Serra já tem essas características, com vários setores comerciais e industriais. É preciso apoiar o que já temos como siderurgia, rochas, mineração. Mas a cidade deve buscar inovações, como um polo de tecnologia, mais faculdades, escolas, a área de logística é interessante, a economia verde e indústrias voltadas para a sustentabilidade. A cidade deve também estimular o micro e pequeno empreendedor, que são alternativas para o desemprego.
Há anos empresários da Serra reclamam de lentidão na aprovação de projetos. A reclamação é justa?
É justo. Mas não é uma situação particular da Serra, mas do Brasil. A Serra tomou medidas para adiantar as coisas, como consulta prévia online, alvará de três anos. Mas precisa agilizar a parte de licenciamento ambiental.
Os homicídios na Grande Vitória se concentram cada vez mais na Serra. A violência pode afastar investimentos na cidade?
Sem dúvida alguma. Especialmente nesses ramos de inovação, que precisam de um ambiente social mais favorável e quando vão avaliar onde investir olham os índices de violência. Esse empreendedor precisa de qualidade da mão de obra, se seus funcionários têm estrutura, escola para os filhos. As empresas trabalham com o recurso humano, e se ela não tiver, fica difícil, e é muito relevante essa questão da violência, até mesmo para o comércio local.
O problema da escassez de água se acentuou nos últimos anos. Isso também pode afugentar o empreendedor?
A água é um insumo muito importante para a atividade industrial. Na Serra, diversos ramos precisam de muita água como siderurgia e rochas ornamentais. É algo relevante, se o negócio necessita de bastante água o empreendedor vai querer saber qual a capacidade de fornecimento a longo prazo. Há as alternativas dos poços artesianos e o sistema de abastecimento do rio Reis Magos, que irá entrar em operação em breve.
Que conselho você daria para quem quer investir no município?
Buscar informações. A Serra, apesar das dificuldades, tem potenciais significativos: a localização, a logística com ferrovia, porto e rodovias. E já tem faculdades, infraestrutura social. Tem espaço físico adequado. Por exemplo, Vitória não tem área para receber empresas de porte como a Serra tem. Já a violência e a escassez de água são desafios para a economia do município. É preciso ler bem esse cenário e se ele atende ao empreendimento. Não é à toa que a Serra tem o maior PIB industrial do ES. É nossa locomotiva econômica e vai continuar sendo.
Na última década a Serra teve uma explosão imobiliária, mas nos últimos anos o mercado esfriou. Tem uma bolha imobiliária na Serra?
Dá para falar que tem uma bolha imobiliária, mas esse não é um contexto exclusivo da Serra. É a realidade da própria Grande-Vitória. Desde quando o Governo Federal lançou o Minha Casa Minha Vida, isso foi um grande estímulo para a construção civil. Agora é um momento de adequação, existe uma bolha nesse sentindo, uma oferta maior que a demanda. Muitos compradores financiaram achando que manteriam a mesma renda, o que não aconteceu.
O centro comercial de Laranjeiras vinha numa crescente e agora dá sinais de estagnação. Por quê?
Não vejo uma diminuição de importância de Laranjeiras. Mas agora alguns fatores influenciam, por exemplo, o metro quadrado. Hoje lojistas podem estar procurando um preço menor. Há o crescimento do comércio em outros bairros, o que faz com que o consumidor não precise ir mais a Laranjeiras. Os shoppings também ajudaram.
A rivalidade entre Audifax Barcelos (PSB) e Sérgio Vidigal (PDT) atrapalha a economia da cidade?
Qualquer tipo de disputa muito acirrada acaba interferindo no local, e isso atrapalha. Veja o caso da situação nacional. Se não houvesse essa polarização, algumas medidas de combate a essa crise poderiam estar aprovadas e adotadas. É preciso que quem ganhe a eleição tenha condições de executar um bom trabalho.
O senhor enxerga diferença no perfil dos quatro principais candidatos a prefeitura da Serra (Audifax, Vidigal, Vandinho e Bruno Lamas) em relação ao desenvolvimento econômico?
Não. Ainda precisa de muito debate com relação ao tema. Pelo que acompanho, não vi muita clareza nas propostas. O que vejo por enquanto é o senso comum com relação a que é preciso sair da crise, mas no genérico.
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