Bruno Lyra
Uma das vítimas da mais recente tragédia na BR 101 morava na Serra e atuava como professor de matemática voluntário para alunos carentes no município. Aloísio Endlich, de 27 anos, era um dos ocupantes do micro-ônibus que se acidentou na tarde de ontem (10) em Mimoso do Sul, provocando a morte de 11 pessoas e ferindo outras nove.
O jovem era integrante do grupo de dança alemã Bergfreund, de Domingos Martins, que retornava de apresentações realizadas no último final de semana no município mineiro de Juiz de Fora. Todas as vítimas fatais estavam no ônibus. Dez eram do grupo de dança, além do motorista do veículo.
Nascido e criado em Domingos Martins, Aloísio havia se mudado recentemente para Colina de Laranjeiras por questões profissionais, já que era professor de uma rede privada de ensino com filiais em Aracruz, Colatina, Linhares e Cachoeiro. E, justamente estar morando na Serra, passou a dar aulas voluntariamente no Projeto SER, que oferece preparação gratuita para estudantes carentes que vão fazer o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
“Esse ano ele já tinha dado aula em três fins de semana no projeto e havia mais programadas. Apesar de
novo, Aloisio já tinha muita experiência. E os alunos gostavam muito dele, pois conseguia falar a linguagem dos jovens. Perdemos um cara promissor, é muito triste”, fala o também professor e coordenador do projeto SER, Renato Ribeiro.
Segundo Renato, as aulas ministradas por Aloísio beneficiaram cerca de 250 alunos serranos este ano, que é a quantidade de estudantes matriculados no projeto, que este ano está funcionando no prédio da faculdade Multivix em Colina de Laranjeiras.
O corpo de Aloísio foi um dos três já identificados entre as 11 vítimas e liberado para a família nesta segunda – feira (11). O velório e o enterro serão no município de Domingos Martins.
O acidente
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, um caminhão carregado com chapas de granito provocou a tragédia. O caminhão fazia uma ultrapassagem numa curva, num ponto onde há terceira faixa, quando as chapas de granito soltaram e atingiram o micro-ônibus que vinha no sentido contrário.
Ao ter o veículo atingido pelas placas de granito, o motorista do micro-onibus perdeu o controle, invadiu a contramão e bateu numa carreta carregada com cerveja. Os dois veículos pegaram fogo. Um carro de passeio também foi atingido pelas pedras, mas o condutor deste conseguiu frear e evitar uma colisão mais grave.
Tanto que todos os mortos e os feridos com mais gravidade estavam no ônibus. Após depoimento, o motorista do caminhão que provocou a tragédia foi liberado. Até o final da tarde de ontem os órgãos de segurança ainda não havia divulgado a identidade desse motorista e nem quem era o responsável pela carga.
Filme triste repetido
Há menos de três meses outro desastre envolvendo transporte de rochas na BR 101 consternou os capixabas. Foi no dia 22 de junho em Guarapari. Na ocasião uma carreta com pneus carecas e uma pedra de granito de 41 toneladas – 11 a mais do que o permitido – tombou ao fazer uma curva.
A pedra atingiu um ônibus da viação Águia Branca que vinha em sentido contrário, partindo o veículo ao meio e provocando a maior tragédia da história rodoviária do ES: 23 mortos e mais de 20 feridos. Dias depois, foi revelado que o motorista da carreta, que também morreu no acidente, havia consumido cocaína.
Debate sobre duplicação ainda mais inflamado
O acidente de Mimoso do Sul inflamou de vez o debate sobre a duplicação dos pouco mais de 450 km da BR 101 no ES, que já vinha aquecido desde julho quando a concessionária Eco 101 disse que não iria fazer o serviço conforme estabelecido em contrato.
Pelas redes sociais, capixabas expuseram a indignação com a concessionária, que já deveria ter entregado vários trechos duplicados em maio deste ano. Por enquanto, nada foi duplicado. A Eco 101 cobra pedágio em sete praças no trecho de 475 km entre a divisa do ES com o Rio de Jeneiro e o extremo sul da Bahia.
A cobrança existe desde maio de 2014 e tarifa já aumentou, em média, cerca de 40% desde então. A Eco alega que a crise econômica reduziu o fluxo de veículos e a receita projetada, e também culpa dificuldades nas desapropriações e obtenção de licenças ambientais para o não cumprimento do contrato. Mas nem por isso reduziu as tarifas cobradas.