Carlos Jordan tem 20 anos, saiu do município mineiro de Thimóteo e veio para a Serra há pouco mais de um mês em busca de emprego. Não encontrou. Desde então, mora na rua. Mas não perde a esperança, pois voltou a estudar graças às turmas especiais de Educação de Jovens e Adultos (EJA) iniciadas há três semanas e, com isso, espera conquistar uma atividade que lhe dê renda.
Ele e outros 38 pessoas em situação de rua estão matriculados nas duas turmas formadas para atender esse público, sob a coordenação do Centro Pop (Centro de Referência Especializado para a População de Rua) em parceria com a Secretaria Municipal de Educação. “Creio que a partir desse projeto vou conseguir estabilidade financeira e partir para uma vida melhor. O sucesso é questão de decisão”, enfatiza Carlos.
Já o mecânico Vilson Costa, 52 anos, foi para a rua por problemas familiares e alcoolismo. Ele, que já possui o Ensino Médio e diz estar nas ruas há 60 dias, resolveu voltar a estudar para relembrar conteúdos e recuperar a dignidade. “Fui casado com uma mulher que queimou meus diplomas. Estou retornando também para revalidar essa documentação. Está sendo importante para mim, aprendo com os professores, com os colegas e quero me recolocar no mercado de trabalho”, destaca.
Por sua vez, Lucas Oliveira Scarpita, 25 anos, ficou um ano e três meses na rua. Agora, conseguiu vaga num abrigo noturno do município para atender pessoas nessa condição e sonha em empreender. “A EJA está sendo uma porta abrindo para eu poder concluir os estudos. Daqui para frente meu foco é estudar, conseguir trabalho e depois montar minha própria empresa”, revela.
Os estudantes têm aulas de língua portuguesa, literatura e matemática. “Estamos tentando resgatar a autoestima do pessoal de rua. Há alguns alunos com nível básico e outros mais avançados que podem tentar Enem, Ifes. Vamos adaptando e direcionando as aulas para atender a todos. Sabemos que é difícil, pois é um projeto piloto, mas estamos tendo ótima receptividade, os alunos estão interessados e divulgando para os colegas”, conta o professor de matemática, Fausto José Gomes Vieira.
“Eu não digo que é dar aula. Eu digo que estamos compartilhando conhecimentos. Eles são ótimos, participativos. Está sendo maravilhoso. Eles estão ganhando; porém, estou ganhando muito mais por estar aqui”, se emociona a professora de português e literatura Iza Silva.
Turmas de Fundamental e Médio em 2020
As duas turmas funcionam num espaço da Igreja Batista, outra parceira do projeto, também no mesmo bairro do Centro Pop. De acordo com o coordenador do Centro Pop, Ramon Rosa Ribeiro, as turmas estão funcionando como preparação para prova de nivelamento que irá definir quem frequentará o EJA do Ensino Fundamental e quem fará o Ensino Médio a partir de 2020, quando as aulas acontecerão no próprio Centro Pop, que será reformado para isso.
“O Centro Pop já fazia encaminhamento de assistidos para escolas regulares. Mas a gente percebeu que tinham dificuldades de permanecer por conta de diversos fatores: relacionamento com colegas de sala, autoestima, dificuldade de aprendizado, dinâmica da aula. Então, surgiu a proposta das turmas especiais e foi desenvolvida essa parceria com a Secretaria de Educação e tivemos a ajuda da Igreja Batista, parceira local. Essa EJA vem com perspectiva diferente, houve cuidado para selecionar dois professores que pudessem abarcar a linguagem dessa população”, detalha Ramon.
O representante do Movimento dos Trabalhadores em Situação de Rua, Teófilo Roberto de Souza, acompanha de perto o projeto e afirma que a EJA em turmas especiais é fundamental para ajudar pessoas nessa condição. “Essa é uma demanda do Movimento desde 2013 e que bom que esteja acontecendo agora na Serra. É algo que vai ajudar a resgatar o ser humano que hoje se encontra em situação de rua”, destaca.