Mestre Álvaro
Yuri Scardini é autor do livro 'Serra: a história de uma cidade' e escreve sobre política e economia

Weverson: perspectivas e expectativas para o novo prefeito da Serra após 28 anos

Weverson assume como prefeito da Serra no dia 1º de janeiro. Crédito: Divulgação.

Weverson Meireles (PDT), de 33 anos, é o prefeito mais jovem a assumir o cargo na Serra desde 1945, quando o carioca Talma Lopes Ribeiro foi escolhido aos 31 anos como prefeito interventor. Diplomado no último dia 18 de dezembro, Weverson será empossado no cargo em 1º de janeiro. Ele governará uma Serra completamente transformada em relação àquela época, agora consolidada como a cidade mais populosa e com a maior economia do Espírito Santo, deixando para trás suas raízes rurais do século passado.

Além disso, Weverson inicia seu mandato marcando o fim de um ciclo político que durou 28 anos, caracterizado pelo revezamento entre Sérgio Vidigal (PDT) e Audifax Barcelos (PP). Egresso do grupo político de Vidigal, ele assume a prefeitura com o desafio de promover a renovação, preservando e ampliando os avanços conquistados nas últimas três décadas. Esse compromisso foi o principal tema de sua campanha, que o levou à vitória nas urnas.

A tendência, segundo informações de bastidores, é que Weverson adote uma gestão marcada pela austeridade em relação aos gastos, pelo menos nesse primeiro ano. Há um entendimento de que é necessário “pisar no freio” para realizar uma espécie de reorganização. Não que a administração anterior tenha deixado a casa desarrumada, mas, ao encerrar sua trajetória política na Serra, Sérgio Vidigal acelerou o ritmo, executando um volume de obras e investimentos sem precedentes. Por isso, a proposta é finalizar e entregar o que já está em andamento antes de iniciar novos investimentos com recursos próprios.

Nesse contexto, há uma exceção: a terceira ligação entre Serra e Vitória, com um novo sistema viário margeando o Complexo de Tubarão. Os recursos para essa obra estão garantidos por meio de uma operação de crédito internacional que já cumpriu os trâmites legais e está em vias de ser efetivada. Weverson deverá ser o prefeito que dará a ordem de serviço para essa obra considerada histórica.

Paralelamente, a principal aposta do grupo de Weverson é que investimentos estruturantes para o futuro da Serra sejam realizados em parceria entre a Prefeitura e o Governo do Estado. Por isso, é fundamental a manutenção da relação política entre o novo prefeito e o governador Renato Casagrande (PSB), além de pelo menos, três dos quatro deputados estaduais com domicílio eleitoral na cidade: Alexandre Xambinho (Podemos), Vandinho Leite (PSDB) e Fábio Duarte (Rede). A exceção é Pablo Muribeca, que já declarou sua permanência na oposição e tentará fazer sombra ao novo prefeito com a mesma agenda dos últimos anos: muitas críticas, pouca propostas e quase nenhuma ação concreta.

A relação entre Weverson e Casagrande será de extrema importância para que o mandato do novo prefeito possa ser potencializado com os significativos recursos do cofre estadual. Entre as expectativas está a transformação do trecho da BR-101, entre Carapina e Serra Sede, em uma avenida expressa que se torne um vetor de desenvolvimento econômico. Essa via precisa de obras de requalificação para melhorar o fluxo de tráfego, conectando de forma mais eficiente a Serra à capital e contribuindo para a geração de riqueza para o município.

Outra proposta relevante é a transformação da zona oeste de Jacaraípe em uma retroárea integrada à dinâmica logística portuária de Aracruz. Essa iniciativa depende diretamente da liderança do governo estadual para se concretizar. Além disso, há o compromisso de avançar em áreas prioritárias como saúde, educação e segurança, essenciais para a qualidade de vida dos moradores da Serra.

Nesse aspecto, as coisas parecem bem alinhadas para Weverson, que assume a prefeitura com uma parceria sólida com Casagrande e seu grupo político. Diferentemente de Vitória, onde o prefeito Lorenzo Pazolini governa sem alinhamento político com o Governo do Estado, na Serra essa conexão é estratégica. Embora a cidade tenha um orçamento global significativo, proporcionalmente, ele é um dos menores em relação às demandas reais.

A contenção de gastos com recursos próprios e a parceria com o Estado podem proporcionar a Weverson o tempo necessário para preparar a administração da Serra e, nos próximos anos, imprimir sua própria marca na gestão. Nesse primeiro momento, a equipe de Weverson deve contar com forte influência de Sérgio e Sueli Vidigal, incluindo indicações de nomes ligados a eles.

No entanto, o novo prefeito enfrenta um desafio nesse processo: atender a um grande número de aliados políticos e, ao mesmo tempo, garantir que os indicados cumpram critérios de qualificação técnica, com mente jovem e inovadora em suas áreas. Esse equilíbrio entre atender interesses políticos e manter a qualidade tem sido uma das principais dificuldades de Weverson na formação de sua equipe, exigindo dedicação intensa nas últimas semanas.

Vai levar algum tempo até que Weverson consiga imprimir seu próprio estilo de gestão. Esse será um processo gradual de autoafirmação, em que ele precisará impor, com sensibilidade, sua identidade, considerando que foi eleito por um amplo leque de aliados sob a influência de Sérgio Vidigal. Embora Vidigal tenha se aposentado do cargo de prefeito, ele não se afastará da vida pública.

Em relação à Câmara Municipal, o cenário é bastante favorável para o novo prefeito. Tudo indica que a relação institucional será positiva. Dos 23 vereadores, estima-se que apenas dois deverão fazer oposição sistemática: Pastor Dinho (PL) e Agente Dias (Republicanos). Essa boa relação com o Legislativo será crucial para atravessar o período de austeridade extrema que se aproxima, especialmente porque os vereadores, por natureza de suas funções, dependem de obras e resultados para atender suas bases eleitorais.

A tendência é que a Câmara continue sendo presidida por Saulinho da Academia, que tem grandes chances de ser reeleito para o cargo. Saulinho, além de ser muito próximo de Weverson, pertence ao mesmo partido, o que reforça a parceria entre o Executivo e o Legislativo no início deste novo mandato.  

Não são esperadas medidas bruscas no início da gestão. Pelo contrário, o novo prefeito deve adotar uma abordagem conservadora, embora seu perfil pessoal indique um líder mais presente, tanto fisicamente nas ruas quanto virtualmente nas redes sociais. Weverson se destaca por estar integrado à comunicação em rede e por produzir conteúdo frequentemente de forma independente, sendo ele mesmo um dos principais operadores de suas plataformas digitais. Essa mudança representa uma significativa evolução no perfil político da Serra, que foi governada por dois prefeitos cuja comunicação era mais alinhada às dinâmicas do século passado.

De modo geral, as perspectivas e expectativas para o novo prefeito são muito positivas, apesar de proporcionais aos grandes desafios que ele enfrentará. Após 28 anos, Weverson tem a oportunidade de ser um “novo” prefeito em um contexto no qual a administração municipal atinge o auge de seu funcionamento, com um orçamento alcançando índices históricos e o suporte de uma ampla aliança política.

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