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Yahoo Family Park: uma história de pioneirismo aquático na Serra que não resistiu a oxidação do tempo

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Fundado em 1999, parque aquático fechou no início de 2015. Fotos; divulgação.

Yahoo Family Park… Quem conseguiu conhecer, nunca vai esquecer. E quem nunca foi, sempre quis ir. Essa é a dura verdade. Desde o dia 1º de maio de 2015 a Serra perdeu seu primeiro e único até o presente momento parque aquático mais futurista e pioneiro. Isso porque o antigo Yahoo fechava as portas para dar lugar ao um loteamento residencial.

Localizado às margens da ES-010, do outro lado da pista do atual prédio do IFES de Manguinhos, o Yahoo marcou sua época, em especial na primeira década dos anos 2000, quando viveu seu auge. Na época, as torres de tobogãs podiam ser vistas da praia de Manguinhos. Em proporções menores, o Yahoo estava para o ES como o Beto Carreiro está para o Brasil, com o diferencial de ser um parque aquático e terrestre.

A concepção do parque tinha como tema central uma família de extraterrestres, que chegou a Terra e achou tudo muito monótono. Essa família viu a possibilidade de trazer alegria e diversão, nascendo assim o Yahoo. Dessa forma, o parque criou uma ambiência futurista, com bonecos de extraterrestres e tobogãs que pareciam verdadeiras naves espaciais. A temática era composto pela matriarca Mamyhoo, seus filhos Ninahoo, Brotherhoo e Babyhoo e o seu pet, o Doghoo.

O Yahoo começou a ser construído em 1998 e tinha uma previsão de começar a funcionar em 1999. Expectativa que foi atingida pelos responsáveis. Fotos de arquivo do Jornal Tempo Novo mostram o parque prontinho para inauguração, que na época foi um verdadeiro arraso.

Em 1998, os corretores do Yahoo colocaram a venda 10 mil passaportes familiares, que na prática, funcionavam como títulos de sócios. Com validade de 20 anos, cerca de dois mil foram vendidos em menos de um mês. O que já demonstrava o grandioso interesse dos capixabas naquela obra de arte do entretenimento aquático.

Na época, em conversa com o jornal Tempo Novo, um dos sócios revelou que o investimento estaria orçado em R$ 11 milhões, valor prá lá de expressivo, ainda mais se for considerar a época. Utilizando a calculadora de correção monetária disponibilizada pelo Banco Central, o valor atual seria de aproximadamente R$ 87 milhões.

Os sócios eram Nilo Martins, José Murilo Coutinho, Pedro Paulo Perim, Murilo Maioli Coutinho e André Martins. O Yahoo era um dentre vários parques aquáticos que foram inaugurados no país em meados dos anos 90, quando o setor expandiu. Entretanto, crises e conflitos entre administradores e investidores levaram a uma cisão e posterior fechamento de muitos desses locais de entretenimento, história similar ao que ocorreu com o Yahoo.

No segmento de parques aquáticos, a marca americana Wet’n Wild, considerada à época o mais famoso do mundo, estava entre as maiores empresas estrangeiras do ramo que, nos anos 90, apostavam no Brasil para expandir os seus negócios. No país, foi fundada a primeira filial fora dos Estados Unidos, sendo escolhida a cidade de Salvador, na Bahia como sede do empreendimento. O Brasil era visto como um mercado promissor. Mas mesmo o gigante do setor, o Wet’n Wild baiano, não resistiu às crises e fechou as portas no início dos anos 2000.

Só para se ter uma ideia do tamanho do Yahoo, o parque aquático serrano tinha área de 180 mil m², o mesmo tamanho do Wet’n Wild, de Salvador. E mesmo assim, na época, os sócios afirmavam que o Yahoo ganhava em quantidade de equipamentos.

Em uma extensa entrevista ao Tempo Novo, os sócios afirmaram que a intenção era que o parque conseguisse romper as barreiras da sazonalidade do verão e das datas festivas. Para isso foram construídas atrações na parte seca do parque aquático com montanha-russa, carinhos bate-bate e casa maluca, por exemplo. Eram 20 brinquedos no parque de diversões e uma área social com nove lojas e um restaurante.

Toda a temática do parque foi planejada com esse designer extraterrestre, a Torre Maluca, por exemplo, era um complexo de tobogãs futuristas. No ano de inauguração, em 1999, estavam disponíveis 22 brinquedos aquáticos.

Havia também o Katibum, um tobogã que desaguava em uma enorme “cuspideira” que posteriormente desaguava em uma piscina. O Yahoo contava com várias outras atrações como a famosíssima piscina de ondas, que reuniam milhares de pessoas quando o alarme tocava. Além destes, eram opções o Pinei, o Maluco Beleza, o Doidão, o Aloprado e o Caduco, entre vários outros.

O Rio Lento era uma diversão à parte; a atração contrastava com a aventura dos tobogãs, mas nem por isso era mesmo divertido. Com 380 metros lineares, o Rio Lento era o segundo maior do Brasil na época da inauguração, perdendo apenas para o do Paradise Park, localizado na beira do mar do Sul da Bahia, em Arraial D’Ajuda, Porto Seguro.

Um dos sócios, Murilo Maioli, que foi o último a se manter no empreendimento chegou a criar a empresa MCM Aquático, que construiu o Yahoo fabricando os próprios brinquedos e os tobogãs; idealizando os designers e tudo que envolvia os equipamentos; diferencial que na época, economizou 50% do investimento previsto ao não ter que importar os materiais. Desde o início os investidores se inspiraram em vários outros parques espalhados pelo mundo, para juntar um pouquinho de cada um e formar o conceito do Yahoo, desde a concepção até a operação.

Declínio e fechamento para dar lugar a loteamento

Por anos o Yahoo Park funcionou no auge e expandiu suas operações, trazendo alegria e diversão para milhares de famílias em todo o Brasil. O Yahoo atraia turistas de fora do Espírito Santo e se tornou uma das referências do setor, funcionando permanentemente por 15 anos. No entanto, infelizmente para a Serra, o parque anunciou em 2015 que estava fechando as portas.

Em março de 2015, o Jornal Tempo Novo entrevistou o sócio responsável pelo empreendimento, José Murilo Coutinho. Naquela reportagem ele confirmou os boatos que já vinham circulando: o Yahoo deixaria de existir para dar lugar a um empreendimento imobiliário.

Na época o grupo empresarial controlador do Yahoo estava convocando os sócios que adquiriram títulos vendidos entre 2002 e 2005, cujo contrato oferecia entrada gratuita até 2020 para quem pagasse cinco anos de manutenção adiantados.

Para quem tinha esse tipo de contrato, Murilo disse que seria feita a devolução do valor proporcional a esses cinco anos em que o parque não atenderia. Para isso, bastava o comprador se dirigir até a administração do Yahoo com o contrato e o documento de identificação.

Quanto aos funcionários do parque, Murilo garantiu à época que seriam reaproveitados em outras empresas do grupo. Sobre os equipamentos, ele informou que estavam sendo vendidos ou transferidos para outros parques. O que ficasse, seria transformado em sucata. Já naquela época, as piscinas, estavam sendo esvaziadas. Atualmente estão todas aterradas.

“Quando um empreendimento deste porte está para fechar, surgem muitos boatos. Ainda não está definido o que será feito com a área quando for desocupada, mas é possível que o lugar se torne um empreendimento imobiliário, pois tem potencial para isso e não queremos estagnar o crescimento da cidade”, afirmou Murilo em 2015. Hoje, sabe-se que foi exatamente o que ocorreu, toda a área do parque aquático se transformou no Yahoo Residence, com lotes residenciais e comerciais a partir de 300m² voltados à classe média alta. Dos 180 mil m² de área, 122 mil m² podem ser construídas. O restante é área verde recuperada pelo próprio grupo e se tornou área de preservação.

Empresário aponta desprestígio do turismo

Dentre os motivos para o fechamento do Parque Yahoo, Murilo Coutinho destacou à época que além do alto custo de manutenção, as crises hídricas e energéticas foram decisivas para a antecipação do encerramento das atividades. Disse também que faltam incentivos e investimentos do poder público no setor.

“Acumulamos prejuízos desde que abrimos em 2000. No início ainda havia algum retorno, mas depois o movimento caiu muito e ficou inviável manter o parque. Optamos por funcionar até saldarmos todos os financiamentos. Não falimos e não deixaremos nenhuma dívida”, afirmou para a reportagem do Tempo Novo em 2015.

Murilo ainda teceu críticas sobre o que ele considerou “pouco investimento dos governos” no setor de turismo. “O fato de se nomear políticos não eleitos para as secretarias de turismo, coloca na administração pessoas despreparadas para o setor”, avaliou em 2015. Quando fechou o parque tinha cerca de 80 atrações distribuídas em parque aquático, parque de diversões e fazendinha. Em 2014, um ano antes de fechar as portas, o parque funcionava todos os dias da semana, no horário de 10h às 17h. Os ingressos eram comercializados a R$ 110 a inteira e R$ 55 a meia. Em valores corrigidos nos dias atuais, os ingressos custariam R$ 240 a inteira.

Referências: esse trabalho foi estruturado feito pelo jornalista Yuri Scardini; foi realizado na integralidade por meio do acervo do Jornal Tempo Novo, que acompanhou o parque aquático Yahoo Family Park desde sua inauguração até o fechamento.

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